terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Considerações gerais




269. Os Espíritos podem comunicar-se espontaneamente, ou acudir ao nosso chamado, isto é, vir por evocação. Pensam algumas pessoas que todos devem abster-se de evocar tal ou tal Espírito e ser preferível que se espere aquele que queira comunicar-se. Fundam-se em que, chamando determinado Espírito, não podemos ter a certeza de ser ele quem se apresente, ao passo que aquele que vem espontaneamente, de seu moto próprio, melhor prova a sua identidade, pois que manifesta assim o desejo que tem de se entreter conosco. Em nossa opinião, isso é um erro: primeiramente, porque há sempre em torno de nós Espíritos, as mais das vezes de condição inferior, que outra coisa não querem senão comunicar-se; em segundo lugar e mesmo por esta última razão, não chamar a nenhum em particular é abrir a porta a todos os que queiram entrar. Numa assembléia, não dar a palavra a ninguém é deixá-la livre a toda a gente e sabe-se o que daí resulta. A chamada direta de determinado Espírito constitui um laço entre ele e nós; chamamo-lo pelo nosso desejo e opomos assim uma espécie de barreira aos intrusos. Sem uma chamada direta, um Espírito nenhum motivo terá muitas vezes para vir confabular conosco, a menos que seja o nosso Espírito familiar.
Cada uma destas duas maneiras de operar tem suas vantagens e nenhuma desvantagem haveria, senão na exclusão absoluta de uma delas. As comunicações espontâneas inconveniente nenhum apresentam, quando se está senhor dos Espíritos e certo de não deixar que os maus tomem a dianteira. Então, é quase sempre bom aguardar a boa vontade dos que se disponham a comunicar-se, porque nenhum constrangimento sofre o pensamento deles e dessa maneira se podem obter coisas admiráveis; entretanto, pode suceder que o Espírito por quem se chama não esteja disposto a falar, ou não seja capaz de fazê-lo no sentido desejado. O exame escrupuloso, que temos aconselhado, é, aliás, uma garantia contra as comunicações más.

Nas reuniões regulares, naquelas, sobretudo, em que se faz um trabalho continuado, há sempre Espíritos habituais que a elas comparecem, sem que sejam chamados, por estarem
prevenidos, em virtude mesmo da regularidade das sessões. Tomam, então, freqüentemente a palavra, de modo espontâneo, para tratar de um assunto qualquer, desenvolver uma proposição ou prescrever o que se deva fazer, caso em que são facilmente reconhecíveis, quer pela forma da linguagem, que é sempre idêntica, quer pela escrita, quer por certos hábitos que lhes são peculiares.
270. Quando se deseja comunicar com determinado Espírito, é de toda necessidade evocá-lo. (Nº 203.) Se ele pode vir, a resposta é geralmente: Sim, ou Estou aqui, ou, ainda: Que quereis de mim? Às vezes, entra diretamente
em matéria, respondendo de antemão às perguntas que se
lhe queria dirigir.
Quando um Espírito é evocado pela primeira vez, convém designá-lo com alguma precisão. Nas perguntas que se lhe façam, devem evitar-se as fórmulas secas e imperativas, que constituiriam para ele um motivo de afastamento.
As fórmulas devem ser afetuosas, ou respeitosas, conforme o Espírito, e, em todos os casos, cumpre que o evocador lhe dê prova da sua benevolência.
271. Surpreende, não raro, a prontidão com que um Espírito evocado se apresenta, mesmo da primeira vez. Dir-se-ia que estava prevenido. É, com efeito, o que se dá, quando com a sua evocação se preocupa de antemão aquele que o evoca. Essa preocupação é uma espécie de evocação antecipada e, como temos sempre conosco os nossos Espíritos familiares, que se identificam com o nosso pensamento, eles preparam o caminho de tal sorte que, se nenhum obstáculo surge, o Espírito que desejamos chamar já se acha presente ao ser evocado. Quando assim não acontece, é o
Espírito familiar do médium, ou o do interrogante, ou ainda um dos que costumam freqüentar as reuniões que o vai buscar, para o que não precisa de muito tempo. Se o Espírito evocado não pode vir de pronto, o mensageiro (os
Pagãos diriam Mercúrio) marca um prazo, às vezes de cinco minutos, um quarto de hora e até muitos dias. Logo que ele chega, diz: Aqui estou. Podem então começar a ser feitas as perguntas que se lhe quer dirigir.
O mensageiro nem sempre é um intermediário indispensável, porquanto o Espírito pode ouvir diretamente o chamado do evocador, conforme ficou dito em o nº 282, pergunta 5, sobre o modo de transmissão do pensamento. Quando dizemos que se faça a evocação em nome de Deus, queremos que a nossa recomendação seja tomada a sério e não levianamente. Os que nisso vejam o emprego de uma fórmula sem conseqüências farão melhor abstendo-se.
272. Freqüentemente, as evocações oferecem mais dificuldades aos médiuns do que os ditados espontâneos, sobretudo quando se trata de obter respostas precisas a questões circunstanciadas. Para isto, são necessários médiuns especiais, ao mesmo tempo flexíveis e positivos e já em o nº 193 vimos que estes últimos são bastante raros, por isso que, conforme dissemos, as relações fluídicas nem sempre se estabelecem instantaneamente com o primeiro Espírito que se apresente. Daí convir que os médiuns não se entreguem às evocações pormenorizadas, senão depois de estarem certos do desenvolvimento de suas faculdades e da natureza dos Espíritos que os assistem, visto que com os mal assistidos as evocações nenhum caráter podem ter de autenticidade.

“O Livro Dos Médiuns” Allan Kardec – Feb.

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