26. Poder-se-á conceber o espírito sem
a matéria e a matéria sem o espírito?
“Pode-se, é fora de dúvida, pelo
pensamento.”
27. Há então dois elementos gerais do
Universo: a matéria e o espírito?
“Sim e acima de tudo Deus, o
criador, o pai de todas as coisas. Deus, espírito e matéria constituem o
princípio de tudo o que existe, a trindade universal. Mas, ao elemento material
se tem que juntar o fluido universal, que desempenha o papel de intermediário
entre o espírito e a matéria propriamente dita, por demais grosseira para que o
espírito possa exercer ação sobre ela. Embora, de certo ponto de vista, seja
lícito classificá-lo com o elemento material, ele se distingue deste por propriedades
especiais. Se o fluido universal fosse positivamente matéria, razão não haveria
para que também o espírito não o fosse. Está colocado entre o espírito e a
matéria; é fluido, como a matéria é matéria, e suscetível, pelas suas
inumeráveis combinações com esta e sob a ação do espírito, de produzir a
infinita variedade das coisas de que apenas conheceis uma parte mínima.
Esse fluido universal, ou primitivo,
ou elementar, sendo o agente de que o espírito se utiliza, é o princípio sem o
qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e nunca adquiriria as
qualidades que a gravidade lhe dá.”
a) — Esse fluido será o que designamos
pelo nome de eletricidade?
“Dissemos que ele é suscetível de
inúmeras combinações.
O que chamais fluido elétrico,
fluido magnético, são
modificações do fluido universal,
que não é, propriamente falando, senão matéria mais perfeita, mais sutil e que
se pode considerar independente.”
28. Pois que o espírito é, em si,
alguma coisa, não seria mais exato e menos sujeito a confusão dar aos dois
elementos gerais as designações de — matéria inerte e matéria inteligente?
“As palavras pouco nos importam.
Compete-vos a vós formular a vossa linguagem de maneira a vos entenderdes.
As vossas controvérsias provêm,
quase sempre, de não vos entenderdes acerca dos termos que empregais, por ser incompleta
a vossa linguagem para exprimir o que não vos fere os sentidos.”
Um fato patente domina todas as
hipóteses: vemos matéria destituída de inteligência e vemos um princípio
inteligente que independe da matéria. A origem e a conexão destas duas coisas nos
são desconhecidas. Se promanam ou não de uma só fonte; se há pontos de contacto
entre ambas; se a inteligência tem existência própria, ou se é uma propriedade,
um efeito; se é mesmo, conforme à opinião de alguns, uma emanação da Divindade,
ignoramos. Elas se nos mostram como sendo distintas; daí o considerarmo-las
formando os dois princípios constitutivos do Universo. Vemos acima de tudo isso
uma inteligência que domina todas as outras, que as governa, que se distingue
delas por atributos essenciais. A essa inteligência suprema é que chamamos
Deus.
Allan
Kardec – “O Livro Dos Espíritos” Feb.
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