253. Cumpre, todavia, se não atribuam à ação direta
dos Espíritos todas as contrariedades que se possam experimentar, as
quais, não raro, decorrem da incúria, ou da imprevidência. Um agricultor nos
escreveu certo dia que, havia doze anos, toda sorte de infelicidades lhe
acontecia, relativamente ao seu gado; ora eram as vacas que morriam, ou
deixavam de dar leite, ora eram os cavalos, os carneiros, ou os porcos que
sucumbiam. Fez muitas novenas, que em nada remediaram o mal, do mesmo modo que
nada obteve com as missas que mandou celebrar, nem com os exorcismos que mandou
praticar. Persuadiu-se, então, de acordo com o preconceito dos campos, de que
lhe haviam enfeitiçado os animais. Supondo-nos, sem dúvida, dotados de um poder
esconjurador maior do que o do cura da sua aldeia, pediu o nosso parecer. Foi a
seguinte a resposta que obtivemos:
“A mortalidade ou as enfermidades do gado desse homem provêm de
que seus currais estão infetados e ele não os repara, porque custa dinheiro.”
254. Terminaremos este capítulo inserindo as
respostas que os Espíritos deram a algumas perguntas e que vêm em apoio do que
dissemos.
1ª Por que não podem certos médiuns desembaraçar-se de Espíritos
maus que se lhes ligam e como é que os bons Espíritos que eles chamam não se
mostram bastante poderosos para afastar os outros e se comunicar diretamente? “Não
é que falte poder ao Espírito bom; é, as mais das vezes, que o médium não é
bastante forte para o secundar; é que sua natureza se presta melhor a outras
relações; é que seu fluido se identifica mais com o de um Espírito do que com o
de outro. Isso o que dá tão grande império aos que entendem de ludibriá-los.”
2ª Parece-nos, entretanto, que há pessoas de muito mérito, de
irrepreensível moralidade e que, apesar de tudo, se veem impedidas de comunicar
com os bons Espíritos. “É uma provação. E quem te diz, ao demais, que elas não
trazem o coração manchado de um pouco de mal? Que o orgulho não domina um pouco
a aparência de bondade?
Essas provas, com o mostrarem ao obsidiado a sua fraqueza, devem
fazê-lo inclinar-se para a humildade.
“Haverá na Terra alguém que possa dizer-se perfeito? Ora, um,
que tem todas as aparências da virtude, pode ter ainda muitos defeitos ocultos,
um velho fermento de imperfeição.
Assim, por exemplo, dizeis, daquele que nenhum mal pratica, que
é leal em suas relações sociais: é um bravo e digno homem. Mas, sabeis,
porventura, se as suas boas qualidades não são tisnadas pelo orgulho; se não há
nele um fundo de egoísmo; se não é avaro, ciumento, rancoroso, maldizente e mil
outras coisas que não percebeis, por que as vossas relações com ele não vos
deram lugar a descobri-las? O mais poderoso meio de combater a influência dos
maus Espíritos é aproximar-se o mais possível da natureza dos bons.”
3ª A obsessão, que impede um médium de receber as comunicações
que deseje, é sempre um sinal de indignidade da sua parte?
“Eu não disse que é um sinal de indignidade, mas que um
obstáculo pode opor-se a certas comunicações; em remover o obstáculo que está
nele, é o a que deve aplicar-se; sem isso, suas preces, suas súplicas nada
farão. Não basta que um doente diga ao seu médico: dê-me saúde, quero passar
bem. O médico nada pode, se o doente não faz o que é preciso.”
4ª Assim, a impossibilidade de comunicar com os bons Espíritos
seria uma espécie de punição?
“Em certos casos, pode ser uma verdadeira punição, como a
possibilidade de comunicar com eles é uma recompensa que deveis esforçar-vos por merecer.” (Veja-se — Perda e suspensão da mediunidade, nº 220.)
5ª Não se pode também combater a influência dos maus Espíritos, moralizando-os? “Sim, mas é o que não se faz e é o
que não se deve descurar de fazer, porquanto, muitas vezes, isso constitui uma
tarefa que vos é dada e que deveis desempenhar caridosa e religiosamente. Por
meio de sábios conselhos, é possível induzi-los ao arrependimento e apressar-lhes
o progresso.”
— Como pode um homem ter, a esse respeito, mais influência do
que a têm os próprios Espíritos?
“Os Espíritos perversos se aproximam antes dos homens que eles
procuram atormentar, do que dos Espíritos, dos quais se afastam o mais
possível. Nessa aproximação dos humanos, quando encontram algum que os
moralize, a princípio não o escutam e até se riem dele; depois, se aquele os
sabe prender, acabam por se deixarem tocar. Os Espíritos elevados só em nome de Deus lhes podem falar e isto os
apavora. O homem, indubitavelmente, não dispõe de mais poder do que os
Espíritos superiores, porém, sua linguagem se identifica melhor com a natureza
daqueles outros e, ao verem o ascendente que o homem pode exercer sobre os
Espíritos inferiores, melhor compreendem a solidariedade que existe entre o céu
e a terra. “Demais, o ascendente que o homem pode exercer sobre os Espíritos
está na razão da sua superioridade moral. Ele não domina os Espíritos
superiores, nem mesmo os que, sem serem superiores, são bons e benevolentes,
mas pode dominar os que lhe são inferiores em moralidade.” (Veja-se o nº 279.)
6ª A subjugação corporal, levada a certo grau, poderá ter como
conseqüência a loucura? “Pode, a uma espécie de loucura cuja causa o mundo desconhece,
mas que não tem relação alguma com a loucura ordinária. Entre os que são tidos
por loucos, muitos há que apenas são subjugados; precisariam de um tratamento moral,
enquanto que com os tratamentos corporais os tornamos verdadeiros loucos.
Quando os médicos conhecerem bem o Espiritismo, saberão fazer essa distinção e
curarão mais doentes do que com as duchas.” (Nº 221.)
7ª Que se deve pensar dos que, vendo um perigo qualquer no
Espiritismo, julgam que o meio de preveni-lo seria proibir as comunicações
espíritas?
“Se podem proibir a
certas pessoas que se comuniquem com os Espíritos, não podem impedir que
manifestações espontâneas sejam feitas a essas mesmas pessoas, porquanto não
podem suprimir os Espíritos, nem lhes impedir que exerçam sua influência
oculta. Esses tais se assemelham às crianças que tapam os olhos e ficam crentes
de que ninguém as vê. Fora loucura querer suprimir uma coisa que oferece
grandes vantagens, só porque imprudentes podem abusar dela. O meio de se lhe
prevenirem os inconvenientes consiste, ao contrário, em torná-la conhecida a
fundo.”
Do Livro:
“O Livro Dos Médiuns” Allan Kardec – Feb.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.