sábado, 23 de novembro de 2013

Da Obsessão -V





253. Cumpre, todavia, se não atribuam à ação direta dos Espíritos todas as contrariedades que se possam experimentar, as quais, não raro, decorrem da incúria, ou da imprevidência. Um agricultor nos escreveu certo dia que, havia doze anos, toda sorte de infelicidades lhe acontecia, relativamente ao seu gado; ora eram as vacas que morriam, ou deixavam de dar leite, ora eram os cavalos, os carneiros, ou os porcos que sucumbiam. Fez muitas novenas, que em nada remediaram o mal, do mesmo modo que nada obteve com as missas que mandou celebrar, nem com os exorcismos que mandou praticar. Persuadiu-se, então, de acordo com o preconceito dos campos, de que lhe haviam enfeitiçado os animais. Supondo-nos, sem dúvida, dotados de um poder esconjurador maior do que o do cura da sua aldeia, pediu o nosso parecer. Foi a seguinte a resposta que obtivemos:
“A mortalidade ou as enfermidades do gado desse homem provêm de que seus currais estão infetados e ele não os repara, porque custa dinheiro.”
254. Terminaremos este capítulo inserindo as respostas que os Espíritos deram a algumas perguntas e que vêm em apoio do que dissemos.
1ª Por que não podem certos médiuns desembaraçar-se de Espíritos maus que se lhes ligam e como é que os bons Espíritos que eles chamam não se mostram bastante poderosos para afastar os outros e se comunicar diretamente? “Não é que falte poder ao Espírito bom; é, as mais das vezes, que o médium não é bastante forte para o secundar; é que sua natureza se presta melhor a outras relações; é que seu fluido se identifica mais com o de um Espírito do que com o de outro. Isso o que dá tão grande império aos que entendem de ludibriá-los.”
2ª Parece-nos, entretanto, que há pessoas de muito mérito, de irrepreensível moralidade e que, apesar de tudo, se veem impedidas de comunicar com os bons Espíritos. “É uma provação. E quem te diz, ao demais, que elas não trazem o coração manchado de um pouco de mal? Que o orgulho não domina um pouco a aparência de bondade?
Essas provas, com o mostrarem ao obsidiado a sua fraqueza, devem fazê-lo inclinar-se para a humildade.
“Haverá na Terra alguém que possa dizer-se perfeito? Ora, um, que tem todas as aparências da virtude, pode ter ainda muitos defeitos ocultos, um velho fermento de imperfeição.
Assim, por exemplo, dizeis, daquele que nenhum mal pratica, que é leal em suas relações sociais: é um bravo e digno homem. Mas, sabeis, porventura, se as suas boas qualidades não são tisnadas pelo orgulho; se não há nele um fundo de egoísmo; se não é avaro, ciumento, rancoroso, maldizente e mil outras coisas que não percebeis, por que as vossas relações com ele não vos deram lugar a descobri-las? O mais poderoso meio de combater a influência dos maus Espíritos é aproximar-se o mais possível da natureza dos bons.”

3ª A obsessão, que impede um médium de receber as comunicações que deseje, é sempre um sinal de indignidade da sua parte?
“Eu não disse que é um sinal de indignidade, mas que um obstáculo pode opor-se a certas comunicações; em remover o obstáculo que está nele, é o a que deve aplicar-se; sem isso, suas preces, suas súplicas nada farão. Não basta que um doente diga ao seu médico: dê-me saúde, quero passar bem. O médico nada pode, se o doente não faz o que é preciso.”
4ª Assim, a impossibilidade de comunicar com os bons Espíritos seria uma espécie de punição?
“Em certos casos, pode ser uma verdadeira punição, como a possibilidade de comunicar com eles é uma recompensa que deveis esforçar-vos por merecer.” (Veja-se — Perda e suspensão da mediunidade, nº 220.)
5ª Não se pode também combater a influência dos maus Espíritos, moralizando-os? “Sim, mas é o que não se faz e é o que não se deve descurar de fazer, porquanto, muitas vezes, isso constitui uma tarefa que vos é dada e que deveis desempenhar caridosa e religiosamente. Por meio de sábios conselhos, é possível induzi-los ao arrependimento e apressar-lhes o progresso.”
— Como pode um homem ter, a esse respeito, mais influência do que a têm os próprios Espíritos?
“Os Espíritos perversos se aproximam antes dos homens que eles procuram atormentar, do que dos Espíritos, dos quais se afastam o mais possível. Nessa aproximação dos humanos, quando encontram algum que os moralize, a princípio não o escutam e até se riem dele; depois, se aquele os sabe prender, acabam por se deixarem tocar. Os Espíritos elevados só em nome de Deus lhes podem falar e isto os apavora. O homem, indubitavelmente, não dispõe de mais poder do que os Espíritos superiores, porém, sua linguagem se identifica melhor com a natureza daqueles outros e, ao verem o ascendente que o homem pode exercer sobre os Espíritos inferiores, melhor compreendem a solidariedade que existe entre o céu e a terra. “Demais, o ascendente que o homem pode exercer sobre os Espíritos está na razão da sua superioridade moral. Ele não domina os Espíritos superiores, nem mesmo os que, sem serem superiores, são bons e benevolentes, mas pode dominar os que lhe são inferiores em moralidade.” (Veja-se o nº 279.)
6ª A subjugação corporal, levada a certo grau, poderá ter como conseqüência a loucura? “Pode, a uma espécie de loucura cuja causa o mundo desconhece, mas que não tem relação alguma com a loucura ordinária. Entre os que são tidos por loucos, muitos há que apenas são subjugados; precisariam de um tratamento moral, enquanto que com os tratamentos corporais os tornamos verdadeiros loucos. Quando os médicos conhecerem bem o Espiritismo, saberão fazer essa distinção e curarão mais doentes do que com as duchas.” (Nº 221.)
7ª Que se deve pensar dos que, vendo um perigo qualquer no Espiritismo, julgam que o meio de preveni-lo seria proibir as comunicações espíritas?
 “Se podem proibir a certas pessoas que se comuniquem com os Espíritos, não podem impedir que manifestações espontâneas sejam feitas a essas mesmas pessoas, porquanto não podem suprimir os Espíritos, nem lhes impedir que exerçam sua influência oculta. Esses tais se assemelham às crianças que tapam os olhos e ficam crentes de que ninguém as vê. Fora loucura querer suprimir uma coisa que oferece grandes vantagens, só porque imprudentes podem abusar dela. O meio de se lhe prevenirem os inconvenientes consiste, ao contrário, em torná-la conhecida a fundo.”

Do Livro: “O Livro Dos Médiuns” Allan Kardec – Feb.

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