“Conheces, porventura, todos os escaninhos da alma humana? Demais, pode a criatura ser leviana e frívola, sem que seja viciosa. Também isso se dá, porque, às vezes, ele necessita de uma lição, a fim de manter-se em guarda.” 7ª Por que permitem os Espíritos superiores que pessoas dotadas de grande poder, como médiuns, e que muito de bom poderiam fazer, sejam instrumentos do erro?
“Os Espíritos de que falas procuram influenciá-las; mas, quando
essas pessoas consentem em ser arrastadas para mau caminho, eles as deixam ir.
Daí o servirem-se delas com repugnância, visto que a verdade não pode ser interpretada pela mentira.”
8ª Será absolutamente impossível se obtenham boas comunicações por um médium imperfeito? “Um médium imperfeito
pode algumas vezes obter boas coisas, porque, se dispõe de uma bela faculdade, não é raro que
os bons Espíritos se sirvam dele, à falta de outro, em circunstâncias especiais;
porém, isso só acontece momentaneamente, porquanto, desde que os Espíritos
encontrem um que mais lhes convenha, dão preferência a este.”
Nota. Deve-se observar que, quando os bons Espíritos
vêem que um médium deixa de ser bem assistido e se torna, pelas suas imperfeições,
presa dos Espíritos enganadores, quase sempre fazem surgir circunstâncias que
lhes desvendam os defeitos e o afastam das pessoas sérias e bem-intencionadas,
cuja boa-fé poderia ser ilaqueada. Neste caso, quaisquer que sejam as
faculdades que possua, seu afastamento não é de causar saudades.
9ª Qual o médium que se poderia qualificar de perfeito?
“Perfeito, ah! bem sabes
que a perfeição não existe na Terra, sem o que não estaríeis nela. Dize,
portanto, bom médium e já é muito, por isso que eles são raros. Médium perfeito
seria aquele contra o qual os maus Espíritos jamais ousassem, uma tentativa
de enganá-lo. O melhor é aquele que, simpatizando somente com os bons
Espíritos, tem sido o menos enganado.”
10ª Se ele só com os bons Espíritos simpatiza, como permitem estes que seja enganado? “Os bons Espíritos permitem,
às vezes, que isso aconteça com os melhores médiuns, para lhes exercitar a
ponderação e para lhes ensinar a discernir o verdadeiro do falso.
Depois, por muito bom que seja, um médium jamais é tão perfeito,
que não possa ser atacado por algum lado fraco. Isto lhe deve servir de lição.
As falsas comunicações, que de tempos a tempos ele recebe, são avisos para que não
se considere infalível e não se ensoberbeça. Porque, o médium que receba as
coisas mais notáveis não tem que se gloriar disso, como não o tem o tocador de
realejo que obtém belas árias movendo a manivela do seu instrumento.”
11ª Quais as condições necessárias para que a palavra dos
Espíritos superiores nos chegue isenta de qualquer alteração?
“Querer o bem; repulsar o egoísmo e o orgulho. Ambas essas
coisas são necessárias.”
12ª Uma vez que a palavra dos Espíritos superiores não nos chega pura, senão em condições difíceis de se
encontrarem preenchidas, esse fato não constitui um obstáculo à propagação da
verdade? “Não, porque a luz sempre
chega ao que a deseja receber. Todo aquele que queira esclarecer-se deve fugir
às trevas e as trevas se encontram na impureza do coração.
“Os Espíritos, que considerais como personificações do bem, não
atendem de boa vontade ao apelo dos que trazem o coração manchado pelo orgulho,
pela cupidez e pela falta de caridade.
“Expurguem-se, pois, os que desejam esclarecer-se, de toda a vaidade humana e humilhem a sua inteligência ante o
infinito poder do Criador. Esta a melhor prova que poderão dar da sinceridade
do desejo que os anima. É uma condição a que todos podem satisfazer.”
227. Se o médium, do ponto de vista da execução, não passa
de um instrumento, exerce, todavia, influência muito grande, sob o aspecto moral.
Pois que, para se comunicar, o Espírito desencarnado se identifica com o
Espírito do médium, esta identificação não se pode verificar, senão havendo,
entre um e outro, simpatia e, se assim é lícito dizer-se, afinidade. A alma
exerce sobre o Espírito livre uma espécie de atração, ou de repulsão, conforme
o grau da semelhança existente entre eles. Ora, os bons têm afinidade com os
bons e os maus com os maus, donde se segue que as qualidades morais do médium
exercem influência capital sobre a natureza dos Espíritos que por ele se
comunicam.
Se o médium é vicioso, em torno dele se vêm agrupar os Espíritos inferiores, sempre prontos a tomar o lugar aos bons
Espíritos evocados. As qualidades que, de preferência, atraem os bons Espíritos
são: a bondade, a benevolência, a simplicidade do coração, o amor do próximo, o
desprendimento das coisas materiais. Os defeitos que o afastam são: o orgulho, o egoísmo, a inveja, o ciúme, o ódio, a
cupidez, a sensualidade e todas as paixões que escravizam o homem à matéria.
228. Todas as imperfeições morais são outras tantas
portas abertas ao acesso dos maus Espíritos. A que, porém, eles exploram com
mais habilidade é o orgulho, porque é a que a criatura menos confessa a si
mesma. O orgulho tem perdido muitos médiuns dotados das mais belas faculdades e
que, se não fora essa imperfeição, teriam podido tornar- se instrumentos
notáveis e muito úteis, ao passo que, presas de Espíritos mentirosos, suas faculdades, depois de se
haverem pervertido, aniquilaram-se e mais de um se viu humilhado por
amaríssimas decepções.
O orgulho, nos médiuns, traduz-se por sinais inequívocos, a cujo
respeito tanto mais necessário é se insista, quanto constitui uma das causas
mais fortes de suspeição, no tocante à veracidade de suas comunicações. Começa por
uma confiança cega nessas mesmas comunicações e na infalibilidade do Espírito que
lhas dá. Daí um certo desdém por tudo o que não venha deles: é que julgam ter o
privilégio da verdade. O prestígio dos grandes nomes, com que se adornam os
Espíritos tidos por seus protetores, os deslumbra e, como neles o amor-próprio sofreria, se houvessem de
confessar que são ludibriados, repelem todo e qualquer conselho; evitam-nos
mesmo, afastando-se de seus amigos e de quem quer que lhes possa abrir os
olhos. Se condescendem em escutá-los, nenhum apreço lhes dão às opiniões,
porquanto duvidar do Espírito que os assiste fora quase uma profanação. Aborrecem-se
com a menor contradita, com uma simples observação crítica e vão às vezes ao ponto
de tomar ódio às próprias pessoas que lhes têm prestado serviço. Por favorecerem
a esse insulamento a que os arrastam os Espíritos que não querem contraditores,
esses mesmos Espíritos se comprazem em lhes conservar as ilusões, para o que os
fazem considerar coisas sublimes as mais polpudas absurdidades. Assim,
confiança absoluta na superioridade do que obtém, desprezo pelo que deles não venha,
irrefletida importância dada aos grandes nomes, recusa de todo conselho, suspeição
sobre qualquer crítica, afastamento dos que podem emitir opiniões
desinteressadas, crédito em suas aptidões, apesar de inexperientes: tais as
características dos médiuns orgulhosos.
Devemos também convir em que, muitas vezes, o orgulho é
despertado no médium pelos que o cercam. Se ele tem faculdades um pouco
transcendentes, é procurado e gabado e entra a julgar-se indispensável. Logo
toma ares de importância e desdém, quando presta a alguém o seu concurso. Mais de uma vez tivemos motivo de deplorar elogios que
dispensamos a alguns médiuns, com o intuito de os animar.
229. A par disto, ponhamos em evidência o quadro do
médium verdadeiramente bom, daquele em que se pode confiar.
Supor-lhe-emos, antes de tudo, uma grandíssima facilidade de
execução, que permita se comuniquem livremente os Espíritos, sem encontrarem
qualquer obstáculo material. Isto posto, o que mais importa considerar é de que
natureza são os espíritos que habitualmente o assistem, para o que não nos
devemos ater aos nomes, porém, à linguagem.
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