domingo, 13 de outubro de 2013

Intervenção dos demônios nas modernas manifestações – Parte final.






17. Dizem que há anjos de guarda; mas quando não podem insinuar-se pela voz misteriosa da consciência ou da inspiração, por que não empregarem meios de ação mais diretos e materiais de modo a chocar os sentidos, uma vez que tais meios existem? E pois que tudo provém de Deus e nada ocorre sem a sua permissão, podemos admitir que Ele faculte tais meios aos maus Espíritos e os recuse aos bons?
Nesse caso é preciso confessar que Deus facilita mais poderes ao demônio, para perder aos homens, do que aos anjos de guarda para salvá-los! Pois bem! o que os anjos de guarda, segundo a Igreja, não podem fazer, fazem por si os demônios: servindo-se de tais comunicações, ditas infe nais,  reconduzem a Deus os que o renegavam e ao bem os escravizados ao mal. Esses demônios fazem mais: dão-nos o espetáculo de milhões de homens acreditando em Deus por intercessão da sua potência diabólica, ao passo que a Igreja era impotente para convertê-los. Homens que jamais oraram, fazem-no hoje com fervor, graças às instruções desses demônios! Quantos orgulhosos, egoístas e devassos se tornaram humildes, caridosos e recatados?! E tudo por obra do diabo! Ah! mas se assim for, claro é que a toda essa gente o demônio tem prestado melhor serviço e guarda que os próprios anjos. É necessário, porém, formar uma triste opinião do senso humano dos nossos tempos, para crer que os homens aceitem cegamente tais idéias. Uma religião, porém, que faz pedra angular de tal doutrina, uma religião que se destrói pela base, em se lhe tirando os seus demônios, o seu inferno, as suas penas eternas e o seu deus impiedoso; uma religião tal, dizemos, é uma religião que se suicida.
18. Dizem que Deus enviou o Cristo, seu filho, para salvar os homens, provando-lhes com isso o seu amor. Como se explica, entretanto, que os deixasse depois em abandono?

Não há dúvida de que Jesus é o mensageiro divino enviado aos homens para ensinar-lhes a verdade, e, por ela,  caminho da salvação; mas contai — e somente após a sua vinda — quantos não puderam ouvir-lhe a palavra da verdade, quantos morreram e morrerão sem conhecê-la, quantos, finalmente, dos que a conhecem, a põem em prática. Então, por que não lhes enviar Deus, sempre solícito na salvação de suas criaturas, outros mensageiros, que, baixando a todas as terras, entre grandes e pequenos, ignorantes e sábios, crédulos e cépticos, venham ensinar a verdade aos que a desconhecem, torná-la  compreensível aos que não a compreendem, e suprir, enfim, pelo seu ensino direto e múltiplo, a insuficiência na propagação do Evangelho, abreviando o evento do reinado divino? Mas eis que chegam esses mensageiros em hostes inumeráveis, abrindo os olhos aos cegos, convertendo os ímpios, curando os enfermos, consolando os aflitos, a exemplo de Jesus! Que fazeis vós, e como os recebeis vós? Ah! vós os repudiais, repelis o bem que fazem e clamais: são demônios!
Outra não era a linguagem dos fariseus relativamente ao Cristo, que, diziam, fazia o bem por artes do diabo! E o Nazareno respondeu-lhes: “Reconhecei a árvore por seu fruto: a má árvore não pode dar bons frutos.”
Para os fariseus eram maus os frutos de Jesus, porque ele vinha destruir o abuso e proclamar a liberdade que lhes arruinaria a autoridade. Se ao invés disso Jesus tivesse vindo lisonjear-lhes o orgulho, sancionar os seus erros e sustentar-lhes o poder, então, sim, ele seria o esperado Messias dos judeus. Mas o Cristo era só, pobre e fraco: decretaram-lhe a morte julgando extinguir-lhe a palavra, e a palavra sobreviveu-lhe porque era divina. Importa contudo dizer que essa palavra só lentamente se propagou, e, após dezoito séculos, apenas é conhecida de uma décima parte do gênero humano. Além disso, em que pese a tais razões, numerosos cismas rebentaram já do seio da cristandade.
Pois bem: agora, Deus, em sua misericórdia, envia os Espíritos a confirmá-la, a completá-la, a difundi-la por todos e em toda a Terra — a santa palavra de Jesus. E o grande caso é que os Espíritos não estão encarnados num só homem cuja voz fora limitada: eles são inumeráveis, andam por toda parte e não podem ser tolhidos. Também por isso, o seu ensino se amplia com a rapidez do raio; e porque falam ao coração e à razão, são pelos humildes mais compreendidos.
19. Não é indigno de celestes mensageiros — dizeis — o transmitirem suas instruções por meio tão vulgar qual o das mesas? Não será ultrajá-los o supor que se divertem com frivolidades deixando a sua mansão de luz para se porem à disposição do primeiro curioso?
Jesus também deixou a mansão do Pai para nascer num estábulo. E quem vos disse que o Espiritismo atribui frioleiras aos Espíritos superiores? Não; o Espiritismo afirma positivamente o contrário, isto é, que as coisas vulgares são próprias de Espíritos vulgares. Não obstante, dessas vulgaridades resulta um benefício, qual o de abalar muitas imaginações, provando a existência do mundo espiritual e demonstrando à saciedade que esse mundo não é tal, porém muito diferente do que se julgava. Essas manifestações iniciais eram porventura simples como tudo que começa, mas nem por germinar de minúscula semente a árvore deixa um dia de estender virente e copada a sua ramagem.
Quem acreditaria que da misérrima manjedoura de Belém pudesse sair a palavra que havia de transformar o mundo?
Sim! O Cristo é bem o Messias divino. A sua palavra é bem a palavra da verdade, fundada na qual a religião se torna inabalável, mas sob condição de praticar os sublimes ensinamentos que ela contém, e não de fazer do Deus justo e bom, que nela reconhecemos, um Deus faccioso, vingativo e cruel.

Fonte: “O Céu E O Inferno” Ou A Justiça Divina Segundo O Espiritismo -  Allan Kardec -


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