55. Hão dito que o Espírito é uma chama, uma centelha. Isto se deve
entender com relação ao Espírito propriamente dito, como princípio intelectual
e moral, a que se não poderia atribuir forma determinada. Mas, qualquer que
seja o grau em que se encontre, o Espírito está sempre revestidode um
envoltório, ou perispírito, cuja natureza se eteriza, à medida que ele se
depura e eleva na hierarquia espiritual.
De sorte que, para nós, a idéia de forma é
inseparável da de Espírito e não concebemos uma sem a outra. O períspirito faz,
portanto, parte integrante do Espírito, como o corpo o faz do homem. Porém, o
perispírito, só por só, não é o Espírito, do mesmo modo que só o corpo não
constitui o homem, porquanto o perispírito não pensa. Ele é para o Espírito o
que o corpo é para o homem: o agente ou instrumento de sua ação.
56. Ele tem a forma humana e, quando nos aparece, é geralmente com a
que revestia o Espírito na condição de encarnado.
Daí se poderia supor que o perispírito, separado
de todas as partes do corpo, se modela, de certa maneira, por este e lhe
conserva o tipo; entretanto, não parece que seja assim. Com pequenas diferenças
quanto às particularidade se exceção feita das modificações orgânicas exigidas pelo
meio em o qual o ser tem que viver, a forma humana se nos depara entre os habitantes
de todos os globos. Pelo menos, é o que dizem os Espíritos. Essa igualmente a
forma de todos os Espíritos não encarnados, que só têm o perispírito; a com que, em todos os tempos, se
representaram os anjos, ou Espíritos puros. Devemos concluir de tudo isto que a
forma humana é a forma tipo de todos os seres humanos, seja qual foro grau de
evolução em que se achem.
Mas a matéria sutil do perispírito não possui a
tenacidade, nem a rigidez da matéria compacta do corpo; é, se assim nos podemos
exprimir, flexível e expansível, donde resulta que a forma que toma, conquanto
decalcada na do corpo, não é absoluta, amolga-se à vontade do Espírito, que lhe
pode dar a aparência que entenda, ao passo que o invólucro sólido lhe oferece
invencível resistência.
Livre desse obstáculo que o comprimia, o
perispírito se dilata ou contrai, se transforma: presta-se, numa palavra, a
todas as metamorfoses, de acordo com a vontade que sobre ele atua. Por efeito
dessa propriedade do seu envoltório fluídico, é que o Espírito que quer dar-se
a conhecer pode, em sendo necessário, tomar a aparência exata que tinha quando
vivo, até mesmo com os acidentes corporais que possam constituir sinais para o
reconhecerem.
Os Espíritos, portanto, são, como se vê, seres
semelhantes a nós, constituindo, ao nosso derredor, toda uma população,
invisível no estado normal. Dizemos — no estado normal, porque, conforme
veremos, essa invisibilidade nada tem de absoluta.
Allan Kardec – “O Livro Dos Médiuns” Feb.
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