sexta-feira, 7 de julho de 2017

FRAUDES ESPÍRITAS


314. Os que não admitem a realidade das manifestações físicas geralmente atribuem à fraude os efeitos produzidos.
Fundam-se em que os prestidigitadores hábeis fazem coisas que parecem prodígios, para quem não lhes conhece os segredos; donde concluem que os médiuns não passam de escamoteadores. Já refutamos este argumento, ou, antes, esta opinião, notadamente nos nossos artigos sobre o Sr. Home e nos números da Revue de janeiro e fevereiro de 1858. Aqui, pois, não diremos mais do que algumas palavras, antes de falarmos de coisa mais séria.
Há, em suma, uma consideração que não escapará a quem quer que reflita um pouco. Existem, sem dúvida, prestidigitadores de prodigiosa habilidade, mas são raros. Se todos os médiuns praticassem a escamoteação, forçoso seria reconhecer que esta arte fez, em pouco tempo, inauditos progressos e se tornou de súbito vulgaríssima, apresentando-se inata em pessoas que dela nem suspeitavam e, até, em crianças.
Do fato de haver charlatães que preconizam drogas nas praças públicas, mesmo de haver médicos que, sem irem à praça pública, iludem a confiança dos seus clientes, seguir-se-á que todos os médicos são charlatães e que a classe médica haja perdido a consideração que merece? De haver indivíduos que vendem tintura por vinho, segue-se que todos os negociantes de vinho são falsificadores e que não há vinho puro? De tudo se abusa, mesmo das coisas mais respeitáveis e bem se pode dizer que também a fraude tem o seu gênio. Mas, a fraude sempre visa a um fim, a um interesse material qualquer; onde nada haja a ganhar, nenhum interesse há em enganar. Por isso foi que dissemos, falando dos médiuns mercenários, que a melhor de todas as garantias é o desinteresse absoluto.

315. De todos os fenômenos espíritas, os que mais se prestam à fraude são os fenômenos físicos, por motivos que convém considerar. Primeiramente, porque impressionam mais a vista do que a inteligência, são, para prestidigitação, os mais facilmente imitáveis. Em segundo lugar, porque, despertando, mais do que os outros, a curiosidade, são mais apropriados a atrair as multidões; são, por conseguinte, os mais produtivos. Desse duplo ponto de vista, portanto, os charlatães têm todo interesse em simular as manifestações desta espécie; os espectadores, na sua maioria estranhos à ciência, acorrem, geralmente, em busca muito mais de uma distração do que de instrução séria e é sabido que se paga melhor o que diverte do que o que instrui. Porém, posto isto de lado, outro motivo há, não menos peremptório. Se a prestidigitação pode imitar efeitos materiais, para o que só de destreza se há mister, não lhe conhecemos, todavia, até ao presente, o dom de improvisação, que exige uma dose pouco vulgar de inteligência, nem o produzir esses belos e sublimes ditados, frequentemente tão cheios de apropósitos, com que os Espíritos
matizam suas comunicações. Isto nos faz lembrar o fato seguinte:
Certo dia, um homem de letras bastante conhecido veio ter conosco e nos disse que era muito bom médium escrevente intuitivo e que se punha à disposição da Sociedade espírita. Como temos por hábito não admitir na Sociedade senão médiuns cujas faculdades nos são conhecidas, pedimos ao nosso visitante assentisse em dar antes provas de sua faculdade numa reunião particular. Ele, efetivamente, compareceu a esta, na qual muitos médiuns experimentados
deram ou dissertações, ou respostas de notável precisão, sobre questões propostas e assuntos que lhes eram desconhecidos. Quando chegou a vez daquele senhor, ele escreveu algumas palavras insignificantes, disse que nesse dia estava indisposto e nunca mais o vimos.
Achou sem dúvida que o papel de médium de efeitos inteligentes é mais difícil de representar do que o supusera.
316. Em tudo, as pessoas mais facilmente enganáveis são as que não pertencem ao ofício. O mesmo se dá com o Espiritismo.
As que não o conhecem se deixam facilmente iludir pelas aparências, ao passo que um prévio estudo atento as inicia, não só nas causas dos fenômenos, como também nas condições normais em que eles costumam produzir-se e lhes ministra, assim, os meios de descobrirem a fraude, se existir.

DO LIVRO: "OS LIVRO DOS MÉDIUNS" KARDEC - FEB

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